Foste seleccionado para um novo emprego! Ah… Que maravilha!! Foste jantar com os amigos para contar a novidade e lá em casa está tudo contente. As instalações da empresa nova são brutais, o projecto é espectacular, têm férias ilimitadas, e aquele aumento que nunca mais chegava foi agora superado na proposta que te fizeram. O mundo é um lugar tão bom para se viver…
No dia seguinte acordas e é o dia de contares ao teu patrão/chefe actual que decidiste aceitar uma nova proposta. Pois é… já te estão a dar calafrios e há um misto de alegria e desconforto dentro de ti. Ninguém gosta de dar más notícias, mas tem de ser.
No caminho para o trabalho vais a pensar: “Vou dizer-lhe que não andava à procura e que surgiu do nada, e que eu nem estava numa de ir, mas as condições…” Nope! Não vai ajudar. “Então vou dizer-lhe que estava farto e que o projecto não era o que eu gostava e que aqui as coisas não estavam no caminho que eu queria…” Nope! Não é a altura para isso, devias ter abordado esse tema há muito mais tempo.
“Então o que posso dizer para que eles não fiquem lixados e eu não ficar com aquela sensação de mau da fita que abandona o barco?” Nada! Anunciares a tua saída será quase sempre duro e a única forma correcta de o transmitir é sendo directo, transparente e sincero, recordando que o dia de amanhã ainda ninguém o viu, pelo que é fundamental deixares boas referências. Aplica-se aqui a velha máxima: “Mais importante que saber entrar é saber sair”.
Lembra-te que mesmo que tenhas sido sempre um trabalhador exemplar, se fores um crápula no dia em que sais, é disso que toda a gente se vai lembrar, e é por isso que neste texto vou dar algumas dicas que eu valorizo e que considero serem fundamentais para garantires que deixas uma boa impressão às pessoas com quem trabalhaste (Eu próprio usei-as no passado):
Pessoal e Privado: Esta é óbvia… mas a verdade é que há coisas tão óbvias que nem lhes ligamos. Que nem te passe pela cabeça dar esta notícia por e-mail ou telefone. Vais deixar a sensação aos outros que não tens coragem de lhes contar na cara. Queres mesmo ser essa pessoa?
Deves fazê-lo num local privado em que apenas estejas tu e a tua chefia/patrão. Quando chegares ao escritório nesse dia, procura o teu chefe e diz-lhe: “Chefe, preciso de falar consigo ainda hoje. Quando tem 10 minutos?” Se der para lhe pedires essa pequena reunião com 1 ou 2 dias de antecedência, melhor ainda, mas não deixes passar mais que isso.
Fala primeiro com a tua chefia e deixa que seja este a decidir como deves proceder no que respeita à comunicação a colegas e formalização aos Recursos Humanos.
No caso de teres diferentes chefias, o meu conselho é que fales com aquele que “manda mais” ou que tem sido o maior responsável pela tua gestão. No entanto aqui reina o bom senso.
Directo ao assunto: É incrível como a maioria de nós anda às voltas com justificações e a tentar criar um contexto positivo para que os outros recebam a nossa despedida misturada com uma espécie de analgésico para não custar tanto. Isto não é só falta de coragem, é também falta de noção e egoísmo!
Repara, ao tentares criar um “colchão” acabas por gerar ansiedade em quem recebe a informação, porque andas ali às voltas e nunca mais “desembuchas”, levando a que o outro comece a antecipar e a sofrer com isso. Além disso estás a dar argumentos para que depois te possam questionar, Ex: “Então e não me podias ter pedido esse aumento antes? Eu não sabia.”. Lembra-te que, enquanto andas às voltas a tentar criar um contexto confortável que nunca vai existir, estás apenas a tentar lidar com a tua própria ansiedade pelo facto de teres antecipado mentalmente uma má reacção por parte da tua chefia.
Cut the B$ e vai directo ao assunto, Ex: “Chefe, vou sair da empresa”. Depois dá tempo à pessoa para reagir e ouve tudo o que tenha para te dizer sem interromper. Consegues? Não é fácil, mas tu consegues. Depois, se eles perguntarem, podes explicar porque sais. A regra de ouro é: Primeiro a informação, depois os motivos!
Até ao fim: Sim, eu sei que estás farto, sei que o novo trabalho é espectacular e que estás ansioso para gozares aquela semana que conseguiste in-between-jobs, mas se a empresa te vai pagar o salário até ao fim, então tu vais manter o foco até ao fim.
Finaliza com a maior dedicação as tarefas que te estão assignadas e faz a passagem de trabalho o mais correctamente possível, facilitando a vida aos que ficam. Eles não merecem ser castigados pela tua saída. E mesmo que por algum motivo retorcido aches que merecem, não te cabe a ti fazê-lo.
Mais uma vez, eu sei que é claro que a motivação já não é a mesma e que vais estar com a cabeça noutro lado… Deal with it! Agradeces-me depois.
Ah… e não te esqueças que o pré-aviso é para cumprir! 30 dias até 2 anos, 60 dias se estiveres há mais de 2 anos. São dias seguidos de calendário. Se conseguires negociar, usando férias, óptimo, mas não “roas a corda” a meio, nem saias, tanto quanto possível, num momento crítico. Se a nova empresa realmente te quer, eles esperam. Diria até que vão apreciar a tua postura.
Deita cá pra fora: É comum alguém dos Recursos Humanos, ou de outra área relacionada com a gestão, fazer uma entrevista de saída . É este o momento em que podes e deves dizer tudo o que tens para dizer, desde que seja de forma construtiva.
Deixa de fora questões pessoais e singe-te o mais possível a factos tangiveis, sugerindo formas alternativas de gerir pessoas, tarefas e projectos, garantindo que o fazes com o intuito único de ajudares a empresa.
Se quiseres elogiar o trabalho de alguém, este também pode ser um dos momentos para o fazeres. Ainda que eu considere que o devas também dizer à pessoa em questão e à sua chefia directa.
Na KWAN incentivamos a que durante a entrevista de saída nos dêem feedback, bom ou mau, pois só assim sabemos o que precisamos de melhorar.
Agradece: O que aprendeste nesta empresa? Que tecnologias e metodologias ficaste a conhecer? Com quantas pessoas te pudeste relacionar que te mostraram uma nova maneira de fazer as coisas? E mesmo os aspectos negativos, que aprendeste com estes? Na pior das hipótestes ficaste a saber como não fazer.
A sério, pára para pensar e reflecte. A pessoa que és hoje é mais experiente e aporta mais valor que a pessoa que eras quando entraste. Muito provavelmente se não fosse a experiência que agora acaba, não estarias a entrar neste novo emprego.
Por tudo isto, agradece! Há quem não concorde, mas eu sou da opinião de que deves investir tempo a escrever um e-mail de despedida no qual deves agradecer a todos a oportunidade que te foi dada. Às pessoas que consideras mais importantes vai agradecer pessoalmente.
Keep in touch: Sabias que mais que os nossos conhecimentos, mais que as nossas competências, a nossa rede de contactos e a forma como a usamos influencia a nossa evolução profissional?
Desta forma é fundamental que fiques com o contacto das pessoas e que lhes deixes os teus contactos pessoais. Podes fazê-lo no e-mail de despedida, por exemplo.
Também tens o LinkedIn que te pode ajudar a ir sabendo do futuro profissional dos teus colegas e que te permite que vão falando, se assim o desejares.
Deves também fazer um follow-up com a tua chefia ao fim de 6 meses e ao fim de 1 ano, por exemplo, para saber como estão as coisas a correr.
Lembra-te: “Quem não aparece, esquece” e a última coisa que queres é que se esqueçam de ti no contexto profissional.
Nas Redes Sociais: Trata-se de um ponto que faz sentido abordar, pelo facto de hoje, quer queiras quer não, ser algo que acaba por ter algum impacto nas nossas vidas. Aqui o meu conselho é que evites ao máximo expor mais que o desejável.
Mais uma vez, e como sempre, reina aqui o bom senso. Óbvio que não há mal nenhum em exprimires num post a tua felicidade pelo novo emprego, o agradecimento pela oportunidade daquele de onde saíste, uma ou outra foto do almoço ou jantar de despedida… Tudo o que forem assuntos claramente positivos e que não ponham ninguém em causa, diria que estás à vontade.
No entanto, tudo o que sejam assuntos que possam pôr algo ou alguém em causa, o meu conselho é que os giras de forma privada e fora do alcance do olho alheio.
Vais deixar o outro mal e, por muito que aches que ele(a) o merece, também faz com que te olhem de forma menos positiva.
Coisas como:
- “Finalmente mudei de emprego, estava farto daquele buraco”;
- “Aumentaram todos menos a mim, está na hora de me pôr ao fresco”;
- “Querem um novo colaborador? Estou disponível!” -> Ok… Se estiveres no desemprego, se for bem feita, esta até poderá passar.
Qualquer uma destas frases, ou alternativas mais agrestes, podem parecer-te como a vingança justa e merecida. Mas além de comprometerem o empregador actual, vão ser uma red flag para qualquer empregador no futuro.
Não te parece natural que pensem: “Bem, se um dia correr menos bem com esta pessoa, vou ser queimado em hasta pública. No way!”? Nota que, mesmo a última frase, parecendo inofensiva, pode estar a alertar a camada empregadora de que foste despedido e, como tal, podem querer evitar-te.
Se queres de facto deixar uma boa impressão na tua saída há muitos cuidados a ter, mas estas são as bases que deves fazer sempre por cumprir. Com toda a diversidade de empresas e tipos de relação profissional torna-se dificil abranger todos os casos num texto, mas lembra-te que deve imperar sempre o bom senso.
Se a tua situação é mais complexa e está a ser difícil para ti sair a bem, podes entrar em contacto comigo que terei todo o prazer em ajudar-te.