O poder negocial fica do lado dos que estão em minoria e nós, trabalhadores das TI, temos a sorte de viver num tempo em que fazemos parte desse grupo. Tornou-se tão habitual sermos abordados com ofertas de emprego e pedidos de contacto no LinkedIn que até nos esquecemos dos números do desemprego que nos vão afligindo a consciência social e as vidas de tantos amigos e familiares.
Mas, apesar de nos proporem “projectos inovadores” com “desafios aliciantes” em “equipas jovens e dinâmicas”, acabo muitas vezes por perceber que a maior parte dos colegas mudam porque perderam a motivação no projecto anterior, porque querem aprender coisas novas ou simplesmente em busca de um salário melhor.
Os empregos mais atractivos terão sempre uma legião de candidatos – da mesma forma que na inbox dos melhores perfis choverão propostas – e vale tudo para nos fazermos destacar nessa multidão: investimos o nosso tempo nas tais redes sociais, fazemos CVs apelativos, vídeos a falar da nossa experiência ou até criamos bots para falar por nós (ou pelo menos lemos um artigo acerca de fulano de tal que fez isso).
Já as empresas fazem dos perks a sua bandeira, sejam eles um trampolim no escritório, um telemóvel da moda ou deslocações ao estrangeiro. Eu concordo que algo como poder trabalhar a partir de casa de vez em quando dá jeito, mas acho sinceramente que há coisas mais importantes pelas quais podemos decidir a nossa carreira.
Pensa nas razões que devem pesar na tua escolha de emprego. Pensa por exemplo no processo que fazes para comprar um carro, um colchão ou uma guitarra. Tudo coisas de que vais usufruir uns anos ou umas décadas, ou a vida inteira. Passa-se o mesmo com o teu emprego. Tens interesse por uma área de negócio em particular ou estás por tudo desde que não seja o que fazes agora? O teu foco está nas tecnologias que usam e podem vir a usar? Começa por fazer a ti próprio as perguntas certas.
Da próxima vez que procurares emprego vai preparado e equilibra o jogo.
Faz perguntas! Não te limites a ouvir a cassete com a história da empresa – isso é interessante mas tu queres saber mais do que curiosidades! Eles esmiúçam o nosso currículo, perguntam quanto ganhamos, onde moramos e o estado civil. Já te ocorreu perguntar sequer quantas pessoas saíram nos últimos 3 meses ou saber onde é que a empresa se vê daí a 5 anos? Torna a entrevista mais pragmática e pergunta ao entrevistador o que fizeram na semana anterior. Se puderes observa a interacção entre os teus futuros colegas e tenta perceber a dinâmica – vês-te a trabalhar daquela forma e com aquela postura?
Também queres saber algo sobre as pessoas com quem vais passar os próximos anos, certo? Então faz mais perguntas! Pergunta se podes conhecer a equipa e fala com eles, tenta perceber o sentimento geral, as ferramentas e as condições de trabalho. E se o balanço é positivo e recebeste uma proposta à altura, parabéns! Faz só um favor ao teu futuro “eu” antes da azáfama de assinar-e-entregar-a-carta-e-pedir-férias-para-começar-ASAP:
- Leva o teu tempo para negociar uns dias de descanso merecido antes de começar, conferir as condições, formações, revisões salariais e pseudo ajudas de custo;
- Leva o teu tempo para ler nas entrelinhas do contrato sobre como as cláusulas encaixam na tua vida actual e nas tuas expectativas pessoais e profissionais;
- Leva o teu tempo a deixar o teu emprego actual.
Vais precisar de tempo para perceber se tomaste a decisão acertada mas, se o fizeste com toda a informação que estava ao teu alcance, então saberás que tomaste uma decisão consciente sobre o novo rumo da tua carreira. Usa estas e outras alavancas para as tuas próximas entrevistas e boa sorte!