Ficar pelo que já é esperado sabe a pouco. Quando a missão do recrutamento é ajudar a encontrar o lugar certo, isso inclui ir além das expectativas básicas, inclui dar um pouco mais de mim. Esse extra mile vale sempre a pena.
[Nota do editor: este artigo foi originalmente publicado em Dezembro de 2018 e revisto de forma a melhorar a compreensão e a pertinência do mesmo].
Porque faço o que faço? Porque fazemos o que fazemos?
É simples. Corre-nos no sangue, nos valores que defendemos e na visão que temos do mundo. Na KWAN acreditamos que acima de tudo somos todos humanos. Cometemos erros (cliché, huh?), temos motivações e emoções. E aqui queremos fazer o que está certo pelos outros. Todos merecemos esse respeito.
Mesmo com o mercado deturpado pela mentalidade “números-números-números” escolhemos navegar noutros mares e é esse o nosso core-value: as pessoas. As nossas pessoas valem muito mais do que números. Se temos a capacidade de ver os traços humanos que caracterizam os nossos candidatos é impossível tratá-los como matéria-prima. Aqui, somos todos comunidade fértil que produz algo de muito maior e mais rico: a capacidade de criar um mundo melhor, em linha com os ideais que partilhamos.
…e sabe bem quando corre bem
Claro que percorrer este extra mile custa mais do que ficar pelo mínimo necessário. Mas as redes de apoio que construímos com esta atitude são tão mais valiosas do que esse esforço. A riqueza emocional de todos os envolvidos é fortalecida. Vivemos esta dedicação e acreditamos no leading by example. A nossa recompensa é concreta: os resultados de todos nós são melhores.
Quando a nossa equipa de People Managers (o que são People Managers?) reserva tempo para ajudar um colaborador com alguma dificuldade pessoal, como encontrar casa ou deslocar a sua família consigo, fá-lo porque sabe que ele se vai sentir mais realizado assim. Pensem na hierarquia das necessidades de Maslow. O tempo que desperdiçaria com preocupações essenciais nas quais eu consigo ajudar é libertado para que o colaborador tenha disponibilidade mental total para se dedicar à nova linguagem que quer aprender, à sua evolução profissional. Se o conseguirmos ajudar com isso ele vai sentir-se mais feliz e isso vai expressar-se na sua performance profissional.
Tudo o que fazemos é com espírito de entrega — implica um processo de investimento emocional com cada um dos consultores com quem trabalhamos. E podem crer que fico orgulhoso quando conseguimos fazer mais do que o que está no “papel”. Por exemplo, career coaching é um processo fundamental e que sem o qual não acreditamos que seja possível fazer este trabalho. Quanto ao extra mile a um nível mais pessoal, já encontrámos quartos e casas, as boleias são incontáveis, já ajudámos a deslocar famílias para outras cidades e continentes, revimos documentações legais e até apoiamos com problemas emocionais e de saúde. Em todas essas situações foi win-win para os envolvidos.
(Se são dos que acham que o distanciamento entre recrutador e colaborador é estritamente necessário, pensem duas vezes).
…e também sabe bem quando corre menos bem
Quando corre menos bem, claro que a frustração existe. Principalmente por sentir que não fomos capazes de solucionar o caso da melhor forma para o candidato. Sentimos que falhamos com a nossa missão maior e que não conseguimos levar a relação profissional ao seu potencial.
Há uns anos passei por uma experiência destas, muito marcante e que acabou por não funcionar. Acompanhei o processo desde o primeiro dia. Houve uma resposta de colocação imediata mas a dinâmica de adaptação familiar foi mais turbulenta. Apeguei-me muito a este consultor e à família dele, tornámo-nos amigos, com jantares em minha casa e tudo. Seis meses depois ele disse-me que queria trocar de projecto. Comecei a agilizar as opções e antes que eu desse por isso ele desistiu de tudo. Já não queria o projecto novo que tinha aceite, já não queria projecto nenhum. Seguiu com a sua vida por outro caminho sem dar pré-aviso sequer.
Na altura fiquei de rastos, doeu mesmo. Mas foi algo que tive de aceitar para evoluir e agora sei que não faz mal. No fim do dia somos todos humanos. O consultor pode sempre aceitar outra proposta ou fazer mudanças na vida e escolher outra opção. A parte boa é que com esta experiência todos os envolvidos aprenderam algo bom e acrescentaram valor à sua vida, mesmo que o desfecho me tenha desagradado. O trabalho foi o melhor possível naquele período e é assim que escolho aprender com esta experiência.
Para evitar a desilusão é preciso fazer um esforço activo para não criar expectativas quanto à retenção de colaboradores (this is easier said than done!). Confiança numa relação profissional nunca é demais, mas não podemos acreditar cegamente que o consultor não tem mais variáveis a condicionar o seu dia-a-dia. Há sempre outras propostas aliciantes, desafios na vida pessoal e emoções em jogo. Quando um negócio cai não quer dizer que se falhou do lado profissional nem necessariamente do lado pessoal.
Cada caso é um caso, mas não acredito que haja má intenção de um lado nem de outro, todos nós estamos a lutar pelo que nos é mais importante naquele momento. No fim, não fica o ordenado, nem a empresa, ficam sim as relações sociais que se construíram e as experiências ou memórias que se viveram.
Last thoughts
É graças a este espírito de entrega que me deito descansado à noite. Sei que fiz a minha parte, que agi de acordo com os valores que defendo. Nem sempre o resultado do dia é o que eu mais sonhei, mas sei que o resultado final é sempre positivo. Quando acreditamos verdadeiramente nesta postura de trabalho de extra mile que nos tem dado provas de sucesso pessoal e interpessoal, não é por um dia menos bom que vamos mudar os nossos valores.
“Going the extra mile” vale sempre a pena quando sabemos que as nossas acções transbordam o espaço profissional e têm o potencial de mudar a vida de muito mais pessoas. That’s why we do it.
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Okay, já sabe “why we do it“.
Se quer saber mais sobre “how we do it” deixo-lhe o artigo com a receita da KWAN para fazer level up com transparência.