Aplicando o Manifesto Ágil à Construção de um Mindset Ágil

Qual a aplicabilidade do Manifesto Ágil à sua vida pessoal e profissional? Descubra o essencial dessa metodologia com a Full-Stack Developer e KWANer, Laís Ortiz.

Em primeiro lugar, acho importante começarmos essa leitura desmistificando o que, afinal, é a Agilidade.

Lendo a palavra “Ágil”, é comum e compreensível que confundamos com velocidade, no entanto, apesar de haver uma relação entre os conceitos, os dois não significam o mesmo.

Agilidade não é sobre fazer as coisas no menor tempo possível, e sim sobre fazermos as coisas de forma flexível e adaptável, o que, consequentemente, gera resultados mais rápidos e satisfatórios ao mesmo tempo.

Podemos observar a diferença das definições no dicionário Priberam, sendo:

  • Ágil: que se move com facilidade e presteza.
  • Rápido: que se move com rapidez.


E neste artigo irei explorar os valores e princípios da agilidade, explicando de que forma a agilidade enxerga cada um deles.


O Manifesto Ágil


Para entendermos a Agilidade, seja na vida pessoal ou profissional, é importante citarmos o guia de tudo isso: O Manifesto Ágil, com seus quatro valores e doze princípios. Esse manifesto foi criado em 2001 por 17 profissionais que perceberam que a insatisfação de clientes e times em relação às entregas e a proposta dele é, basicamente, que façamos as coisas de forma mais simples.


Valores do manifesto ágil


Ao longo desta seção, você pode perceber que, apesar de processos e ferramentas serem indispensáveis, a agilidade valoriza mais indivíduos e interações na construção dos valores das equipes.


1. Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas


Mais do que prender-se a processos ou a ferramentas pré-definidos e desenhados para resolver cada tipo de problema, o mindset ágil prega que é mais importante valorizar as interações com cada indivíduo e a diversidade existente nas equipes multidisciplinares, que são as equipes compostas por pessoas de diferentes vivências e habilidades com o objetivo de agregar diferentes experiências tanto na etapa de discovery quanto na etapa de delivery. 

A manutenção da interação com os colegas de equipe pode trazer benefícios como: troca de experiências, diferentes pontos de vista sobre um mesmo problema, abertura para exposição de ideias e discussões produtivas que muitas vezes resultam em respostas às questões apresentadas ou até mesmo geram questionamentos que nem sequer haviam sido identificados previamente.

Portanto, alcançar um equilíbrio nas interações parece atender às necessidades negociais, técnicas e humanas 🙂


2. Software em funcionamento mais que documentação abrangente


Apesar da importância de documentar todos os steps e situações negociais de um projeto, é muito mais interessante para o usuário ter um software funcionando, mesmo com funcionalidades limitadas, para que assim ele possa sempre validar a utilidade do produto. Para atender a esse valor, a Agilidade torna a ideia de entregas contínuas tão intrínseca e essa ideia não é, nada mais nada menos, do que realizar entregas de valor ao usuário com frequência.

É interessante frisar que, diferente da metodologia ágil, na metodologia cascata as entregas são feitas apenas no final do ciclo de desenvolvimento e testes de funcionalidades previamente documentadas de forma abrangente, correndo o risco de chegar ao momento da entrega e o produto já não ser mais necessário ou estar defasado ou fora dos conformes do cenário atual, devido ao fato do foco ter estado mais em documentar funcionalidades do que entregar versões do projeto continuamente e fomentar discussões sobre o quanto o produto atende à necessidade do usuário. 


3. Colaboração com o cliente mais do que negociação de contratos


Negociar contratos com certeza é uma parte essencial na elaboração de produtos e exige muita estratégia para que as duas partes não se sintam prejudicadas com os acordos, porém, negociar contratos de forma agressiva desgasta a relação com os clientes, então, zelar pela boa convivência com o cliente é mais importante que gastar toda a energia da equipe em negociações. 

Aplicar esse valor da metodologia ágil inclui a recomendação de incluir o cliente no dia a dia do projeto, trazendo-o para perto da equipe ágil, para que assim ele tenha maior visibilidade e transparência dos processos de planejamento, desenvolvimento, teste e implantação e, principalmente, para que ele consiga ter a visão macro dos problemas que surgem durante os processos e assim possa entendê-los com maior clareza e tranquilidade, visto que ele está presente no cotidiano da equipe e já acompanha a rotina do trabalho. Além disso, é possível mencionar que, ao manter uma boa relação, a necessidade de refatorações e pequenas negociações durante o projeto se tornam mais visíveis e valorosas para o cliente.


4. Responder a mudanças mais que seguir um plano


Esse valor surge para fugir do pensamento que guia a metodologia tradicional, onde o escopo é definido no início do projeto e o mesmo se mantém até ao final. Diferente dele, o mindset ágil implica que na metodologia ágil o time não pode estar preso ao plano inicial para que ele entregue um produto que deixa o cliente realmente satisfeito, visto que corre o risco de realizar a entrega de um produto desatualizado.

Essa forma de condução de trabalho ágil possibilita que o cliente exponha as dores e necessidades durante qualquer momento da execução do projeto e para que itens de valor sejam mudados ou acrescentados, o que permite que haja a melhoria contínua dos produtos, como descrito no ponto 2 (Software em funcionamento mais que documentação abrangente).


Os princípios do manifesto ágil

  1. Satisfaça o consumidor;
  2. Aceite bem mudanças;
  3. Entregas frequentes;
  4. Trabalhe em conjunto;
  5. Confie e apoie;
  6. Conversas face a face;
  7. Softwares funcionando;
  8. Desenvolvimento sustentável;
  9. Atenção contínua;
  10. Mantenha a simplicidade;
  11. Times auto-organizados;
  12. Refletir e ajustar.


Esses princípios estão interligados, mas não tem uma ordem específica e podemos ligá-los também aos 4 valores apresentados na seção anterior, sendo eles baseados em boa convivência, boas práticas e melhoria contínua.


Como absorver o Mindset Ágil?


Inicialmente, para mudarmos qualquer linha de pensamento que pode já estar enraizada em nós, precisamos de ABERTURA e FLEXIBILIDADE.

Abertura para novas ideias, para ressignificar a forma que encaramos o trabalho e o time no dia a dia, para novos moldes de comportamentos e tudo que estiver intrínseco em nós por motivos desconhecidos ou não.

Flexibilidade para nos adaptarmos a novas ideias, a novas formas de resolver os mesmos problemas, a novas formas de analisar os problemas para termos novas perspectivas que ainda não haviam sido consideradas.

Segundo o livro Agilidade Emocional de Susan David, existem algumas formas para atingir o mindset ágil, como:

  • Transformar a resistência às mudanças em adaptabilidade (adaptar-se às mudanças mais do que seguir um plano);
  • Desenredar. Repensar as respostas, ouvir, pensar, analisar e ponderar;
  • Escolher a coragem ao invés do conforto. Quando temos uma resposta prévia, temos que ter a coragem de desconstruir;
  • Aplicar a agilidade no trabalho, não utilizar pensamentos pré-existentes na tomada de decisão.


Modelos mentais segundo Carol Dweck


Outro livro que pode ser citado no que diz respeito ao assunto é o Mindset, de Carol Dweck, onde ela explica dois tipos de mindset:

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Ou seja, no mindset fixo, as coisas são como são e não podem ser mudadas e o fracasso é visto como um ponto final para a tentativa, mantendo a mesma linha de pensamento e de observação para todos os problemas. 

Já no mindset de crescimento, nós devemos nos abrir para o novo, reavaliar situações de forma diferente do que sempre foi e acreditar em melhorias; o fracasso é visto como algo natural e quanto mais falhas, mais aprendizado. Neste mindset, a realização vem do aprendizado de coisas novas, do entendimento de que erros existem e podem ser corrigidos e que tudo que já existe também pode ser melhorado.

Em uma mentalidade de crescimento, os desafios são emocionantes em vez de ameaçadores. Então, em vez de pensar, ah, eu vou revelar minhas fraquezas, você diz, uau, aqui está uma chance de crescer.” – Carol Dweck.


Aplicando o Manifesto Ágil à construção de um Mindset Ágil: considerações finais


Neste artigo, pudemos navegar mais no que diz respeito ao mindset ágil, que pode ser definido como, basicamente, um mindset flexível e adaptável (agilidade e não rapidez). Também apresentei os 4 valores e 12 princípios do manifesto ágil, que foi criado por 17 profissionais com o objetivo de melhorar a satisfação dos colaboradores e clientes por meio da simplicidade para executar as tarefas.

Além disso, também vimos que não há fórmula mágica para absorver o mindset ágil, mas a autora Susan David apresenta considerações interessantes para incorporá-lo. Da mesma forma, também apresentei a contribuição da autora Carol Dweck para o entendimento dos dois tipos de mindset, focando no ágil.

Espero que eu tenha contribuído para realizar reflexões sobre esse tema tão falado hoje em dia, e se você gostou deste artigo, não deixe de explorar outros artigos disponíveis no blog, como o artigo que escrevi sobre Elasticsearch ou esse sobre Synthetic Data.