Porque precisamos de mais mulheres na tecnologia?

Num mundo cada vez mais digital, a presença das mulheres na indústria da tecnologia é mais crucial do que nunca. No Dia Internacional da Mulher, é essencial refletirmos sobre o papel das mulheres na tecnologia e por que precisamos urgentemente delas neste sector.


Historicamente, a indústria da tecnologia tem sido dominada por homens. Mas, por que razão as raparigas e mulheres não seguem percursos nas áreas tecnológicas?

Por que motivo nas escolas e universidades as áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e as áreas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) têm sempre um menor número de alunas? O que as condiciona?

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Os números não mentem


De acordo com um estudo do Global Gender Gap Report, globalmente as mulheres ocupam cerca de 36% das posições em TIC, e apenas 29,2% de empregos nas áreas STEM. Se falarmos em especialistas nas áreas TIC, os números são ainda mais díspares: segundo a Eurostat, em Portugal e na Europa os homens ocupam cerca de 80% dos empregos em TIC, e as mulheres apenas 20%.

Além disso, é importante mencionar a diferença salarial que ainda existe entre homens e mulheres a nível europeu neste sector, que pode atingir os 12.000€ anuais (dados de 2022 da Landing Jobs citados pelo SAPO Tek). Em Portugal um especialista em TIC, ganha em média, mensalmente, cerca de 200€ a mais do que uma especialista, conforme referido no estudo da Fundação José Neves.


Mas, porque existem menos mulheres na tecnologia?


As causas da sub-representação das raparigas e mulheres em percursos STEM, nomeadamente ligados às TIC, podem variar de acordo com o contexto cultural, social e económico de cada país ou região, contudo os principais motivos que contribuem para esta disparidade são vários, tais como:


Estereótipos de género desde a infância


A definição do percurso profissional começa logo muito cedo, ainda durante a infância.

Se estudos comprovam que meninos e meninas têm as mesmas capacidades intelectuais e a mesma capacidade de aprendizagem, por que motivo as meninas a partir dos cinco anos de idade deixam de ter interesse por áreas STEM? Bem, para começar as raparigas e os rapazes são tratados e educados de forma diferente.

Enquanto as meninas brincam com bonecas, cozinhas e brinquedos que estimulam o cuidar do outro, os meninos brincam com legos e carrinhos, o que promove o gosto por áreas de construção e criatividade, que são essenciais em áreas como as engenharias e outras áreas relevantes para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Além disso, em muitos países as mulheres são incentivadas a se tornarem capazes de cuidar da família e de uma casa e deixar de lado a carreira, e os computadores sempre foram vistos como brinquedos de rapazes.

Neste contexto, é normal as raparigas escolherem áreas mais relacionadas com a Saúde, Educação e Ciências Sociais no momento de decisão de profissão, e os rapazes optarem por engenharias.


Falta de Modelos de Referência

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A falta de representatividade e a escassez de modelos inspiradores na tecnologia dificulta que as raparigas sonhem em prosseguir, e até se manter nestas áreas. E a ausência de representação feminina em cargos de liderança e empreendedorismo na indústria tecnológica reduz a visibilidade das oportunidades disponíveis.

Também existem muitos mitos relacionados com as áreas digitais que afastam mulheres a seguir profissões tecnológicas, como por exemplo: “As mulheres têm menor habilidade técnica”, “As mulheres não se interessam por tecnologia”, “Programar é coisa de homens”, “A maternidade prejudica o desempenho profissional das mulheres”, etc.

Apesar de ainda muito faltar fazer (saiba mais aqui), a situação começa a mudar! Há cada vez mais mulheres a seguir percursos associados às TIC e áreas STEM, muito graças a programas que promovem a igualdade de género e que incentivam as raparigas/mulheres a seguirem estas áreas.

Existem dezenas de comunidades por todo o mundo que apoiam mulheres a ingressar no sector tecnológico.

Em Portugal, várias comunidades e organizações estão ativamente envolvidas em promover a participação e o avanço das mulheres na tecnologia. A participação nestas comunidades pode ser feita de forma gratuita e/ou voluntária, e incluem desde programas de mentoria, recursos gratuitos, cursos de programação, partilha de experiências e networking.

Estes grupos são um excelente ponto de partida para quem gostava de começar, ou evoluir na indústria da tecnologia:

  • Geek Girls Portugal: Promovem encontros, dão workshops e têm uma conferência anual que inclui acesso a palestras, workshops, oportunidades de carreira e networking. Destaco o programa de mentoria criado em 2022 e que já se encontra na 5a edição.
  • As Raparigas do Código: Disponibilizam mentorias e cursos gratuitos (com certificação). Promovem workshops para crianças e jovens e colaboram ativamente em projetos de cariz social. Aconselho os workshops de Gestão de Carreira que incluem preparação para entrevistas e exemplos práticos.
  • Portuguese Women In Tech: Organizam eventos e workshops, também têm um programa de mentoria, um clube de leitura e um programa de empreendedorismo para mulheres fundadoras. Destaco o Projeto de Transparência Salarial e os Portuguese Women in Tech Awards.
  • Engenheiras por um Dia: Este programa é uma iniciativa do Governo, cujo objetivo é promover junto das estudantes de ensino não superior, a opção pelas engenharias e pelas tecnologias. Disponibilizam visitas de estudo a empresa, ações de mentoria e ciclos de workshops.


Pelo mundo inteiro existem outras comunidades que estão empenhadas em promover a participação e o avanço das mulheres na tecnologia, algumas delas também atuam em Portugal, como por exemplo:

  • Women in tech
  • SparkDigiGirls
  • Technovation Girls
  • Women Who Code
  • Girls Who Code
  • Women Techmakers
  • She Codes


Benefícios de ter mais mulheres em TI


Um ambiente de trabalho diverso, formado por diferentes tipos de pessoas, é mais saudável e traz muitos impactos positivos – sobre os quais poderá ler mais neste artigo.

Como as mulheres pensam de maneira diferente dos homens, quando as equipas incluem mulheres, elas trazem uma gama mais ampla de habilidades, experiências e diferentes pontos de vista, o que leva a soluções mais criativas e inovadoras, e combate o viés de género que pode existir.

Não nos podemos esquecer que as tecnologias devem ser idealizadas com preocupações inclusivas, não só da experiência e necessidade das mulheres, mas também tendo em conta outras necessidades, temporárias, definitivas ou situacionais.

Deste modo, as empresas têm um papel fundamental na criação de um ambiente que atraia mais mulheres.


Rumo a uma Tecnologia Mais Inclusiva e Inovadora

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Investir na educação e promover o interesse e a participação feminina em disciplinas de STEM ajudam a construir uma base sólida para futuras carreiras na tecnologia.

Em última análise, a busca por mais mulheres na tecnologia não é apenas uma questão de equidade, mas uma estratégia vital para impulsionar a inovação e construir um setor tecnológico verdadeiramente reflexivo da diversidade humana.

Nota: Para um conhecimento mais amplo sobre este tema sugiro os cursos Abordagens Inclusivas de Género na Tecnologia e Participação e Igualdade de Género nas TIC, disponibilizados pela Nau, uma iniciativa da InCode.2030.

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