Igualdade de Género em IT: O Que Falta Fazer?

Com o passar dos anos, verificou-se um aumento do número de mulheres na tecnologia. No entanto, esta área ainda se carateriza pela falta de representatividade feminina, devido aos vários desafios que ainda precisam de ser ultrapassados. No sentido de alcançar a igualdade de género no acesso e progressão na carreira na área tecnológica, o que é que ainda pode ser feito?

São várias as barreiras que ainda precisam de ser ultrapassadas para que comecem a existir mais profissionais do género feminino nesta área, entre elas destacam-se: a falta de modelos de referência; as diferenças na educação que é dada às crianças e as diferenças salariais que ainda se verificam entre homens e mulheres.

Existem vários tipos de ações, aos mais diversos níveis e locais de foco, que permitem desafiar todos os pressupostos tendenciosos atuais de modo a encorajar mais mulheres a seguir carreiras de sucesso em tecnologia, destaco alguns exemplos.


Criação de Modelos de Referência


Sabemos que a falta de representatividade é um dos principais motivos que mantêm muitas mulheres afastadas de uma carreira na área da tecnologia. A melhor forma de combater isto é através da criação de modelos de referência. Isto envolve fornecer oportunidades e um “palco”, ou uma plataforma, a mulheres que ocupam cargos altos na área, de modo a que estas possam inspirar outras mulheres. 

A comunidade Portuguese Women in Tech (PWIT) tem como principais objetivos apoiar mulheres estabelecidas na área das tecnologias e atrair mais talentos femininos para a área, oferecendo visibilidade, mentorias, treinos e oportunidades de networking.

Uma das suas estratégias passa por evidenciar mulheres em posição de liderança. No seu website, contam as histórias das mulheres que construíram (e constroem) o cenário da Tecnologia em Portugal, de modo a inspirar outras mulheres e atraí-las para a área.


Introdução da Tecnologia na Educação


É essencial que os temas referentes à tecnologia sejam inseridos desde cedo na educação, de modo a mostrar às crianças que a engenharia não é uma profissão só para os rapazes. Com isto em mente, existem já algumas iniciativas que visam inspirar jovens portuguesas.

A comunidade PWIT criou, em parceria com a E-REDES, a iniciativa Future PWIT, em 2021, na tentativa de inspirar jovens estudantes entre os 10 e os 18 anos, espalhados por 800 agrupamentos em todo o território nacional, a seguir uma carreira tecnológica. O objetivo a longo-prazo seria alcançar, em 10 anos, um maior equilíbrio de géneros no setor. Este projeto ajuda jovens, professores e famílias na compreensão de que o mundo da tecnologia é acessível a todas, fornecendo acesso a ferramentas de trabalho para serem utilizadas em contexto de sala de aula, incluindo material inspiracional e exercícios práticos.


Desenvolvimento de Iniciativas Dedicadas à Reconversão de Carreira


O acesso à informação de qualidade sobre tecnologia é importante na educação das futuras gerações, mas também pode fazer toda a diferença nas vidas de adultos que gostariam de enveredar por uma carreira na área das tecnologias. 

Felizmente, existem já algumas iniciativas dedicadas à reconversão de carreira que permitem encorajar mais mulheres a ingressar no setor tecnológico. Um desses exemplos são as Raparigas do Código.

Esta comunidade jovem foca-se em promover a inclusão digital através de atividades associadas ao ensino da programação para raparigas e mulheres, desde o ensino básico ao ensino superior. Promovem atividades como clubes de programação, hackathons, webinars e encontros.

Outro programa, chamado She Codes, ofereceu o seu primeiro curso em Portugal, em 2017. Este programa oferece gratuitamente um conjunto de workshops destinados a ensinar os básicos da programação, design e gestão a mulheres que estejam interessadas em seguir uma carreira na área da tecnologia.


Desconstrução do Papel da Mulher como Principal Cuidadora de Filhos e Familiares


Ao nível da empresas, a possibilidade de ajustar os horários de trabalho às obrigações da vida familiar, como prestar cuidados a crianças ou familiares, e ainda a possibilidade de desenvolver a atividade profissional total ou parcialmente a partir de casa, é uma mais-valia tanto para homens como para mulheres mas que acaba por afetar mais as mulheres, uma vez que estas continuam a ser, tradicionalmente, as principais responsáveis pela gestão do lar – o que nos leva ao que, a meu ver, é o principal obstáculo, não à entrada mas à progressão da mulher ao longo da sua carreira, não só na área da tecnologia, mas em qualquer área.

Criar condições para que os homens possam desempenhar tarefas que são tradicionalmente destinadas às mulheres é também uma forma de promover a igualdade de género. Para isso, é necessário que haja empatia e abertura por parte das empresas para ajudar ambos, homens e mulheres, a conseguirem lidar com desafios ao nível da vida pessoal. Por exemplo, contribuindo para a desconstrução do estereótipo de género que assume que as mulheres são os principais cuidadores dos filhos, apoiando os homens que decidam assumir este papel e dando a possibilidade às mulheres de manterem o foco na sua carreira. 

Por mais que existam iniciativas que promovam a inclusão das mulheres na área das tecnologias, sem uma rede de apoio familiar que possa apoiar as mulheres para que estas não se vejam na posição de ter que escolher entre carreira e família, será sempre um grande desafio progredir ao longo dessa mesma carreira, daí que a desconstrução do papel da mulher como principal cuidadora de filhos e familiares é essencial.

Por último, segundo o relatório “Women in Tech: The Best Bet to Solve Europe’s Talent Shortage” da McKinsey & Company, com o dobro de mulheres em empregos tecnológicos, o PIB da União Europeia poderia aumentar até 600 mil milhões até 2027. É portanto urgente investir em iniciativas como as descritas neste artigo. 


Igualdade de Género em IT: Considerações Finais


A inclusão e a progressão na carreira de mais mulheres na tecnologia é o nosso dever ético mas é também uma enorme vantagem competitiva. Criar modelos de referência que sejam uma fonte de inspiração para as jovens; incluir a tecnologia do currículo das crianças de jovens e torná-la atrativa ao género feminino desde cedo; desenvolver iniciativas dedicadas à reconversão de carreira para que mais mulheres possam ajudar a colmatar a falta de profissionais na área e, finalmente, ajudar a desconstruir o papel da mulher enquanto principal cuidadora e dar aos homens os privilégios e oportunidades necessárias para que as mulheres se consigam focar na sua carreiras são algumas das ações que estão ao nosso alcance para diminuir o gap entre homens e mulheres na indústria tecnológica.