Ao longo dos anos, verificou-se algum progresso no estado da equidade de género na indústria tecnológica. Contudo, estudos mostram que as mulheres continuam sub-representadas e a receber menos. O relatório anual sobre Estado da Equidade de Género na Tecnologia do Web Summit apresenta-nos um quadro atual da igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho.
A questão da equidade de género tem sido tema de muita conversa ao longo dos anos e é fácil de assumir que o problema da disparidade entre os géneros melhorou. Contudo, o progresso na área da tecnologia tem sido mais lento do que noutras áreas.
Equipas de IT diversas são essenciais para um melhor desempenho, no entanto, ainda vemos uma falta de representatividade de mulheres na tecnologia, algo que pode ser atribuído a uma grande variedade de fatores.
Para os compreendermos melhor, vamos explorar o relatório sobre Estado da Equidade de Genéro na Tecnologia do Web Summit deste ano, analizando os problemas que as mulheres encontram atualmente na área da tecnologia.
O que Significa Equidade de Género no Local de Trabalho?
Equidade de género no local de trabalho descreve uma igual representação de todos os géneros e acesso a oportunidades, recompensas, experiências e recursos. Num ambiente equitativo, todos os profissionais possuem valor comparável, recebem uma remuneração igual pelo seu trabalho e participam da mesma forma.
Independentemente do seu género, os colaboradores têm acesso a todas as ocupações disponíveis, incluíndo posições de liderança, e não existe qualquer tipo de discriminação baseada em género, particularmente no que diz respeito a responsabilidades de cuidados familiares.
O Estado da Equidade de Género na Tecnologia – Onde Estamos Atualmente
Para o relatório sobre Estado da Equidade de Género na Tecnologia do Web Summit deste ano, entrevistaram-se cerca de 500 mulheres na área da tecnologia, mostrando-nos um quadro da evolução do panorama atual deste setor.
Enquanto que a maioria era da Europa, 15.4% eram Norte-Americanas, 4.4% Sul-Americanas e 7.9% residiam na Ásia, África e no Médio Oriente. A maioria das mulheres representadas tinha entre os 35 e os 44 anos (42%), seguidas de jovens “millennials” com idades entre os 25 e os 34 anos, correspondentes a 32.2% das inquiridas.
Cerca de metade destas mulheres declarou que as suas empresas não tinham ainda estabelecido medidas adequadas para fomentar a equidade e a inclusão nem para combater a desigualdade de género. Outras tantas revelaram ter sofrido episódios de sexismo no local de trabalho no ano anterior.
Os principais obstáculos atuais incluem a falta de mulheres em cargos de liderança, um viés consciente e inconsciente e o equilíbrio entre família e carreira. Contudo, nem todos os resultados foram negativos.
Mais de 50% das inquiridas disseram existir mulheres em cargos de liderança nos seus locais de trabalho e sentir-se empoderadas para elas próprias exercerem funções de nível superior.
Também afirmam sentir-se respeitadas pelos seus colegas e apoiadas pelas empresas em termos de desenvolvimento pessoal.
Os Principais Problemas
Falta de Mulheres em Cargos de Liderança
Neste relatório, enquanto a maioria das mulheres indicou a existência de pelo menos uma mulher a ocupar um cargo de liderança na sua empresa, mais de 59% das inquiridas concordou que a falta de mulheres em cargos de liderança é um dos maiores obstáculos que as mulheres na área da tecnologia enfrentam.
76.1% das mulheres sentem-se empoderadas para exercer funções de liderança, mas apenas 53% relata que as suas empresas estão a tomar medidas efetivas para combater a desigualdade de género no local de trabalho.
21% das mulheres entrevistadas, infelizmente, afirmam que as suas empresas não fazem o suficiente para combater este problema.
Mas por que é que ainda se verifica um atraso no que diz respeito a mulheres ocuparem cargos de liderança na área da tecnologia? Nesta indústria ainda está presente uma “bro culture” generalizada. Muitas mulheres sentem uma desvalorização das suas ideias e são sujeitas a assédio, interrupções e constantes instâncias de “mansplaining”.
A disparidade de género significativa entre colaboradores ajuda a perpetuar um ciclo em que as mulheres são negligenciadas e ignoradas no que diz respeito a promoções e avanços na carreira, daí ainda não serem muito frequentes as mulheres que ocupam cargos de liderança.
Viés Consciente e Inconsciente
Mais de 75% das inquiridas identificaram o viés consciente e inconsciente como sendo um grande problema e desafio atual na indústria tecnológica. Mais de metade destas mulheres passou por, pelo menos, um episódio de sexismo no local de trabalho no ano passado, mais 4% do que foi reportado no relatório anterior.
Uma das inquiridas descreveu o ambiente da sua empresa como um “clube dos rapazes”. Muitas das mulheres entrevistadas sentem a necessidade de se esforçar mais para provar o seu valor devido ao seu género.
O viés consciente e inconsciente na indústria tecnológica pode manifestar-se de várias formas. Muitas vezes traduzem-se numa preferência dos líderes de recrutarem mais colaboradores do sexo masculino, apreciarem mais as suas ideias e contribuições e referí-los mais rapidamente para promoções, mesmo que existam colaboradoras do sexo feminio igualmente qualificadas.
As empresas deveriam fazer um esforço para combater todo o tipo de preconceitos de género no local de trabalho, pois eles podem resultar em angústia emocional, desinteresse e baixas taxas de retenção.
Publicámos recentemente um artigo sobre vários tipos de preconceito no recrutamento e como evitá-los, pode consultá-lo aqui.
Equilíbrio Entre Família e Carreira
Tem havido uma diminuição no número de mulheres que se sentem forçadas a escolher entre ter uma família ou uma carreira (41.8%) em comparação com relatório do ano passado (50.4%). Embora esta evolução seja positiva, efetivamente equilibrar a família e a carreira continua a ser um grande desafio para as mulheres na área da tecnologia.
Esta indústria destaca-se pelo seu ritmo acelerado e natureza exigente o que faz com que muitas mulheres não tenham acesso à flexibilidade necessária para seguir uma carreira e constituir família ao mesmo tempo.
Para atrair e reter colaboradoras, muitas empresas oferecem licenças de maternidade aliciantes, horários de trabalho flexíveis e opções de trabalho remoto.
Contudo, este ainda não é o caso para a maioria das empresas tecnológicas que necessitam que os seus colaboradores trabalhem durante muitas horas, compareçam a reuniões muito cedo e viagem pelo mundo em trabalho.
Responsabilidade Social e Governamental
Neste relatório, aproximadamente 35% das mulheres dizem acreditar que a sociedade tem responsabilidade relativamente à melhoria dos problemas de desigualdade de género, enquanto que 20.6% acredita que esta responsabilidade é do governo.
A maioria das inquiridas (74.6%) defende que a sociedade, o governo, os indivíduos e o setor privado têm uma responsabilidade coletiva sobre esta questão.
57.9% das mulheres relatam que os seus governos não fazem o suficiente para garantir igualdade de género e 51.8% concorda que a indústria tecnológica não está a tomar medidas necessárias para combater o problema.
Em muitos países, na raiz da desigualdade de género está o papel que a sociedade atribui às mulheres. Estas são tradicionalmente vistas como cuidadoras, tornando difícil aceitá-las enquanto líderes e empreendedoras, o que se traduz num número reduzido de ofertas e oportunidades.
Paralelamente, os governos têm o poder de combater a desiguldade de género e discriminação através de leis e políticas, contudo, este poder é muitas vezes ignorado.
Em certos países, os dados sobre a contribuição económica, política e social das mulheres são incompletos ou inexistentes, o que conduz frequentemente à tomada de más decisões, a uma redução dos investimentos e a políticas discriminatórias.
Um Vislumbre de Progresso
Ainda há um caminho longo a percorrer para se atingir um estado de equidade de género na indústria tecnológica, contudo, este relatório destacou algum progresso importante, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional, diversidade e medidas de inclusão.
67.8% das inquiridas sente-se apoiada no seu desenvolvimento pessoal e 60.2% afirma que as suas empresas oferecem oportunidades para aperfeiçoarem as suas qualificações, dentro dos seus cargos atuais. Uma das entrevistadas declarou que a sua empresa empodera todos os seus colaboradores a serem a sua melhor versão.
A grande maioria das mulheres (73.1%) afirmou que as suas empresas ativamente apoiam a diversidade, equidade e inclusão, enquanto que 56% delas acredita que, para que um verdadeiro progresso ocorra para as mulheres na tecnologia, as empresas precisam de oferecer formação adequada ao longo dos próximos 5-10 anos.
O Estado da Equidade de Género na Tecnologia – Considerações Finais
O estado da equidade de género na tecnologia é um problema atual que precisa de ser continuamente abordado. Ainda há muito a ultrapassar neste setor, para o bem das mulheres de todo o mundo, mas, felizmente, também estão a ser feitos alguns progressos.
Para encontrar medidas acionáveis que pode aplicar para melhorar a representação feminina na tecnologia, consulte este artigo.
Na KWAN, queremos contribuir para o sucesso e realização de todos os nossos colaboradores independentemente do género e trabalhamos com várias associações cujo trabalho é precisamente o de empoderar a mulher na tecnologia de forma a chegar à equidade de género. Se procura expandir a sua equipa técnica e se identifica com estes valores, fale connosco, e vamos juntos analisar as necessidades do seu projeto.